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a democracia das elites

  • Foto do escritor: Dino Santos
    Dino Santos
  • 12 de dez. de 2022
  • 4 min de leitura



Falar sobre as desigualdades sociais, embora seja um tema massivamente discutido em quaisquer ambientes acadêmicos ou mesmo núcleos voltados para aplicação de políticas públicas, dada a relevância do assunto, ainda sim, parece que se trata de um estado de coisas teóricas.


A exceção está quando as personagens envolvidas no debate são figuras que lidam de fato com a pobreza, seja por condição - as vítimas da realidade da qual a desigualdade social se impõem; ou por obrigação funcional daqueles que ocupam cargo público para fazer o Estado chegar até as periferias.


As Organizações Não Governamentais - ONG’s e as Igrejas, sobretudo as neopentecostais acabam por construir a relação com a comunidade e com o público alvo de uma maneira mais íntima do que o Estado com seus servidores.


Mas por desigualdade, não se pode deixar de olhar para o lado de cima da pirâmide. A elite. A parte favorecida. Esta possui riqueza e consequentemente poder para pautar a democracia. Possui influência por meios de organismos patronais que necessariamente não estão interligados regionalmente.

Façamos um breve adendo nesta parte ressaltando a corrente teórica leninista de que a democracia vigente no mundo é a democracia das elites, ou democracia burguesa. Que foi suficientemente progressista para superar a Idade Média, mas que jamais poderá ser colocada como uma "democracia pura".


A democracia das elites é uma resistência burguesa ao pensamento marxista de uma tomada de poder através da imposição da ditadura do proletariado, ou o que mais tarde Lenin ressignifica como sendo a democracia do proletariado.


“A democracia proletária, de que o Poder Soviético é uma das formas, desenvolveu e alargou como nunca no mundo a democracia precisamente para a gigantesca maioria da população, para os explorados e os trabalhadores.” (Lenin, 1918)

Este conceito de democracia burguesa é facilmente aceitável quando estuda-se os golpes patrocinados pelos EUA em países relevantes que passaram grandes períodos sendo governados por grupos de esquerda, como no Brasil, por exemplo.


Mas voltando ao assunto acerca da ineficiência no combate às desigualdades sociais, nas democracias as forças antagônicas se encontram para se assenhorear do Estado a fatia do seu quinhão conquistado eleitoralmente. Eis o dilema acerca dos cargos eletivos.


No PodCast Ilustríssima Conversa - Folha de São Paulo, o Dr. em Sociologia pela Universidade de Brasília UNB, Pedro Ferreira de Souza, autor do Livro Uma história da desigualdade: a concentração de renda entre os ricos no Brasil 1926 - 2013 , afirma que as ditaduras são responsáveis pela expansão das desigualdades sociais, contudo as democracias pouco contribuíram para reduzi-las.


...as democracias pouco contribuíram para reduzi-las.

Vários são os fatores que poderiam servir de justificativa para este fenômeno. Mais uma vez o questionamento de Lenin se “pode haver igualdade entre o explorado e o explorador” surge como sendo um dos aspectos.


Entretanto, o que ficou evidente no trabalho do Dr. Pedro Ferreira são os enlaces políticos no entorno das articulações para aprovação de projetos, sejam eles progressistas ou conservadores.


O que está naturalizado é a troca de acordos. Se determinado projeto visa atender um lado, no caso em tela o da classe socialmente desguarnecida, outra pauta para atender as elites é colocada imediatamente na barganha. E assim, essa queda-de-braço perpetua a lentidão no processo de transformação social.


Para ser mais específico considere a seguinte afirmativa: Políticos com lastro são aqueles que carregam maior probabilidade de sucesso em suas pautas. Esse lastro é oriundo de grupos organizados, ou coletivos, por assim dizer, no entorno dos candidatos. É a base eleitoral ideológica, socioeconômico e geoeconômico que dita as pautas a serem discutidas no parlamento.


A depender do tamanho dessas bancadas sabe-se a tendência que vai seguir o governo. O único compromisso que esses políticos possuem é com sua base eleitoral, independentemente do quadro social e econômico em que o país se encontra.


No Brasil as bases eleitorais mais famosas são as chamadas “bancadas”. Sejam elas bancadas da bala, bancada evangélica, bancada de esquerda, minorias, agro/ruralistas, etc.


Sem o apoio do parlamento, nenhum executivo reúne condições para governar. E para ter esse apoio é necessário aprovar projetos e fazer concessões quando este for proposto pela oposição.


E assim, a morosidade no que chamam de “costuras” ou “articulação” torna tardio o avanço dos projetos que muitas vezes são caros aos coletivos que os pleiteiam.




Segundo o sociólogo, apenas movimentos revolucionários ou guerras, ao longo da história da humanidade, formaram condições propícias para reduzir as desigualdades em um curto espaço de tempo. Mas as consequências de uma turba são indesejáveis e podem ser devastadoras.


Antes do fim, não poderia deixar de colocar aqui que outro aspecto conhecido na história é que o fascismo funciona como um botão de emergência para o capitalismo.


Sempre que a esquerda ganha força no parlamento no sentido de não necessitar fazer concessões com a direita, movimentos fascistas, seja por setores públicos, mídia e/ou empresariado, se articulam no sentido de interromper o avanço das classes minoritárias.



Para ilustrar essa afirmação, basta verificar os recentes atos golpistas na América Latina, e nestes grupos estacionados à frente dos quartéis pós eleições brasileiras deste ano. Todos sendo patrocinados por empresários, setores do governo(ainda que em pequena proporção) e a mídia tradicional conservadora.


Aqui não é feito a observação apenas dos movimentos golpistas de 2022 pós eleições, mas sim dos últimos 10 anos e do contexto latino americano.


Mas isto é pauta para nosso próximo artigo.



1 comentario


Luiz Gustavo De Castro Mota
Luiz Gustavo De Castro Mota
12 dic 2022

Reflexão pertinente Dino. Se no horizonte não se vislumbra o estabelecimento de um modelo mais autoritário, como desejam as chamadas "elites", que se deturpe a própria democracia...

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