O SOL HÁ DE BRILHAR MAIS UMA VEZ
- Wadson Xavier de Souza
- 3 de dez. de 2022
- 5 min de leitura

Em 07 de outubro de 2018, data do primeiro turno das eleições presidenciais, pairava sobre mim um misto de incredulidade, revolta e alguma esperança em um futuro incerto, diante da votação acachapante que Bolsonaro obteve na confronto com Haddad (46,03% x 29,28%), teci algumas considerações publicadas no Facebook no dia posterior.
Diante de tal resultado, já se previa que a vitória do "mito" era questão de dias, tentei, à época, fazer uma análise da conjuntura política, buscando as razões de tal tragédia. Já sabia de quem se tratava a figura nefasta que ocuparia o Palácio do Planalto, um tipo caricato que frequentava diversos programas de televisão com suas opiniões polêmicas.
Mas Bolsonaro não era só isso, era um deputado fisiológico e bizarro, do baixo clero, com sete mandatos como deputado federal, dono de discursos e atitudes bizarras, violentas, machistas, racistas e homofóbicas. Defensor da ditadura e de seus torturadores - é sempre bom relembrar.
Passados os quatros anos de suplícios, incertezas, dor e medo pelo futuro do país, venho, com a permissão do leitor, relembrar aquele texto em que buscava compreender as razões para que tal fenômeno fosse possível.
Considerações sobre o 7 de outubro.
Assombroso, nefasto e esclarecedor. A força da votação do candidato proto e pseudo fascista demonstra o tamanho do problema político e social do país: uma massa de ignorantes e desinformados, uma grande parcela enganada pelo discurso midiático hegemônico de que a decadência econômica e moral do país se deu pela opção do PT em incluir (não chegou a priorizar) a grande parcela da população sem direito a cidadania; a esse eleitor alienado, e até mesmo de boa-fé, somaram-se os canalhas declarados: religiosos, patrões exploradores, rentistas, moralistas hipócritas, belicistas, torturadores, enfim, todo o tipo de reacionário, conservador e covarde que habita a família de quase todos nós.
O brasileiro culturalmente arcaico, dominado pelo pensamento medievalista, colonialista, escravagista, machista e homofóbico pôde se orgulhar de seu voto, diante da completa desmoralização da centro-esquerda governante, arquitetada, planejada e posta em andamento desde o escândalo do mensalão. Certamente a grande mídia, o judiciário e a elite econômica não esperavam que a direita tradicional seria tragada a reboque no lamaçal que preparou para o PT. Isso é cristalino quando observamos a raiva dos eleitores do candidato ignóbil e vencedor ao atacar a Globo como inimiga de seu líder, ela, Globo, e os demais meios de comunicação não abraçaram a candidatura pois não estava em seus planos a consequência maior da desestruturação do campo social-democratico governante, qual seja: alçar ao poder, em definitivo, os piores elementos que compõem a sociedade brasileira.
O PT era um elemento de contenção dessas criaturas abjetas, juntamente com o PSDB, na alternância de poder. Ambos varridos e destruídos pelo inconformismo da derrota deste último, que apostou no golpe, gestou a destruição da credibilidade institucional do país, preferiu arriscar a democracia e todo o sistema político vigente do que aguardar as próximas eleições. Diante dessa instabilidade, o até então coadjuvante PMDB - que reúne quadros que vão de republicanos e nacionalistas como o Requião e Pedro Simon, até canalhas de plantão como Temer e Cunha - assume provisoriamente o poder em meio ao caos instalado, visando apenas lucrar com o momento, os únicos que verdadeiramente ganharam nesse enredo trágico.
Hoje veio a consolidação da tragédia. Sim, fomos derrotados, não como eleitores, mas como país aspirante a civilização, ao jogo democrático, ao estado de direito. Esfacelados e divididos nos digladiamos, entre os que tinham esperanças de retomar pelo voto a nossa democracia de baixa intensidade e os que encontraram no fascismo, atirando ao lixo o mínimo civilizatório conquistado, uma esperança de mudança e renovação. Ilegitima em seu nascedouro, a eleição sempre esteve perdida, e é preciso que assim seja, somente no descaminho, na cisão, na desorientação poderemos construir algo novo e coerente. Ciro não seria esse caminho, mesmo que tivesse votos suficientes para o segundo turno, seria apenas a contenção temporária da revolta manipulada, cega e desorientada do povo em se atirar ao fundo do poço, esse povo aturdido pelo circo de horrores montado pela grande mídia, legislativo, judiciário e toda a plêiade de poderosos cretinos entreguistas que comandam o país.
O eleitor de Ciro nunca foi um eleitor convicto (e por isso mesmo não se consolidou nas urnas), abarca até antipetistas extremistas dispostos a abraçar o proto/pseudo nazismo para não ver o PT de novo no governo, um ódio cego que não sera superado por argumentação lógica, como pretende Haddad. O eleitor de Ciro também abarca os que pregam a morte do PT como liderança da centro-esquerda trabalhista - ignorando ou relativizando que o maior líder popular do país (e do PT) foi alijado de seus direitos políticos através de um processo escancaradamente fraudulento, internacionalmente reconhecido como farsa e perseguição política - na esperança de reconstruir uma conciliação onde ela já não pode existir.
Nenhum governo será legítimo - ao menos os que tenham pretensão democrática - ignorando a pancada fatal dada no estado de direito brasileiro, empurrando para debaixo do tapete o fato mais grave ocorrido na nova república: o golpe contra a soberania popular. Não haverá sossego aos que se aventuraram mais uma vez em destruir as pretensões de um povo em se emancipar, em se tornar socialmente justo e experimentar a cidadania plena.
Haverá resistência, sem máscaras e meio termos. Legítima e verdadeira, dura batalha, longa batalha. Que merece ser travada, não por nacionalismo, mas por um sentimento genuíno de humanidade, um internacionalismo civilizatório que é o único motivo para continuarmos existindo como seres humanos em evolução."
Hoje, faltando menos de um mês para a posse de Lula, sinto-me reconfortado, com a sensação de que um reparo histórico foi feito. Reconfortado sim, mas não aliviado. Estou consciente de que a luta apenas começou, a vitória foi clara, aos olhos de quem pede democracia, no Brasil e no Mundo.
Sabemos que - diante das manifestações fanáticas, criminosas e insanas dos que ainda apoiam o ser lunático que nos assombrou durante quatro anos - o país não está completamente livre para retornar à estrada do progresso e da civilização, ainda vivemos sobre o signo de um medo difuso.
O que poderia acontecer? Um atentado contra Lula? Um golpe arregimentado entre elites e militares? Uma oposição do mercado que inviabilizaria um governo democrático que promete a retomada da agenda social e inclusiva?
Perguntas nem um pouco estranhas em uma terra acostumada a ignorar as necessidades de seu povo e subverter o próprio lema da bandeira. Pois se não há o respeito à Democracia e ao Estado de Direito, carecemos de Ordem. E sem o cumprimento dos direitos sociais inscritos na Constituição, jamais haverá Progresso.
Termino esse texto apostando em dias, meses e anos melhores, se há quatro anos a esperança era uma luz no fim do túnel, hoje ela [esperança] é um sol nascente que ilumina e aquece nosso horizonte. Sigamos, eles não passaram!
Comments